Na última primavera
decidi fazer uma mini-horta na minha sacada. Comprei mudas de morango, de
pimentão, muitas ervas aromáticas e também plantei sementes de uns tomates
cereja orgânicos que compro na feira e que são deliciosos. Alguns dias mais
tarde consegui 10 mudas de tomate, nove eram bastante viçosas e uma parecia
lutar para sobreviver. No momento do transplante percebi que a décima muda, que
chamarei aqui de Plantinha, ainda estava demasiado pequena, mas ainda assim
decidi transferi-la, a partir desse momento cada uma ganhou seu vasinho que
foram dispostos em um canto ensolarado da varanda. Passadas algumas semanas os
tomateiros estavam lindos, não tardou para que eu tivesse que providenciar um
vaso maior e também estacas e logo, logo começaram a surgir as primeiras flores
e os primeiros frutos. Mas e a Plantinha? Essa continuava pequenina e sem
sinal de que iria sobreviver, deixei-a em um canto, protegida do sol e
continuei dando-lhe água e nutrientes.
Um belo dia, que não foi tão belo assim, uma
forte chuva de granizo destruiu quase todas as minhas plantas. Quando chegamos
a casa o cenário foi desolador, plantas arrancadas de seus vasos que se
encontravam quebrados no chão, os tomateiros partidos pela metade com seus
tomatinhos em meio às grandes pedras de gelo e folhas. Sentei e chorei. Após a
primeira reação de querer jogar tudo no lixo, resolvi salvar as plantas que
pudesse, e foi quando eu a encontrei, ela estava ali, esquecida em um canto,
tão esquecida que nem fora lembrada pela forte tempestade que passara. A Plantinha havia perdido suas folhas, o vaso estava meio quebrado, mas seu
caule continuava intacto. Nesse dia percebi como havia sido injusta e
preconceituosa com ela. Há muito tempo ela havia crescido o suficiente para
merecer um novo vaso e uma pequena estaca, mas eu não havia percebido. Ao
transplantá-la percebi que as raízes estavam bastante encharcadas, pois usei
pra ela os mesmos critérios de rega e nutrientes que usava para os outros tomateiros,
sem levar em conta de que por ter um vaso menor e ser menos desenvolvida
ela necessitava menos água e menos nutrientes. Não fosse a destruição de suas
colegas, eu provavelmente a teria matado afogada.
O exemplo do que aconteceu com meu tomateiro
também pode ser usado com relação à inclusão de nossas crianças na escola
regular. Muitas vezes nós pais e professores pensamos que apenas colocando-os
juntos eles se desenvolverão da mesma maneira que os demais. Damos a mesma
quantidade de conteúdos, com o mesmo tipo de linguagem e cobramos os mesmos
resultados e quando, obviamente, eles não alcançam (e teriam que alcançar?)
dizemos que a inclusão não funciona, pelo menos não para o nosso filho.
Colocá-los em uma escola regular para mim é uma questão indiscutível, mas
inclusão não termina aí, é preciso um trabalho de equipe entre os pais e os
professores, buscando aparar as arestas, resolver as dificuldades à medida que
elas surgem. O processo de aprendizagem não é uma ciência exata para nenhuma
criança e não poderia ser diferente para as que têm deficiência intelectual.
A partir desse dia resolvi salvar minha
plantinha, fiz pesquisa na internet para saber como cuidá-la, controlei o PH da terra, comprei
nutrientes especiais para tomates e a reguei de acordo com sua demanda específica e pouco a pouco suas folhas voltaram a aparecer e ela finalmente comecou a crescer. Quando os dias começaram a esfriar passei-a, juntamente com as outras plantas,
para um quarto extra, no qual bate bastante sol e não usamos aquecedor central.
Ali ela teria um bom ambiente para continuar se desenvolvendo.
Na semana passada estive fora acompanhando Adam na recuperação de uma cirurgia quando tivemos a primeira nevasca. Fiquei preocupada com minhas plantas, será que o ambiente não está demasiado frio e húmido? Será que elas sobreviverão? Quando cheguei à casa a primeira coisa que fiz foi correr ao quartinho e qual minha surpresa quando encontro a Plantinha cheia de pequenas flores amarelas. Quem diria, comentei com meu marido, eu vou colher tomates no inverno.
Nesse dia, durante o jantar, analisamos as tantas vezes em que quase desisti da pequena, quando era miúda demais para ser transplantada, quando ela não se desenvolvia e a esqueci num canto da sacada, após a chuva de granizo quando por um momento pensei em jogá-la fora, quando começou a esfriar e pensei em deixá-la na sacada, afinal, tomates crescem em ambiente livre, pensei. E assim somos nós, quantos pais não desistem de seus filhos? Quando o comparam com as demais crianças e esperam os mesmos resultados, não lhe dando tempo para conseguir, quando não acreditam em seu potencial e aceitam que as escolas coloquem nele a culpa pela sua incompetência em trabalhar a inclusão, quando, mesmo com boa intenção abrimos concessões a ele, diferente das que ganham seus irmãos típicos, simplesmente porque ele tem deficiência.
Na semana passada estive fora acompanhando Adam na recuperação de uma cirurgia quando tivemos a primeira nevasca. Fiquei preocupada com minhas plantas, será que o ambiente não está demasiado frio e húmido? Será que elas sobreviverão? Quando cheguei à casa a primeira coisa que fiz foi correr ao quartinho e qual minha surpresa quando encontro a Plantinha cheia de pequenas flores amarelas. Quem diria, comentei com meu marido, eu vou colher tomates no inverno.
Nesse dia, durante o jantar, analisamos as tantas vezes em que quase desisti da pequena, quando era miúda demais para ser transplantada, quando ela não se desenvolvia e a esqueci num canto da sacada, após a chuva de granizo quando por um momento pensei em jogá-la fora, quando começou a esfriar e pensei em deixá-la na sacada, afinal, tomates crescem em ambiente livre, pensei. E assim somos nós, quantos pais não desistem de seus filhos? Quando o comparam com as demais crianças e esperam os mesmos resultados, não lhe dando tempo para conseguir, quando não acreditam em seu potencial e aceitam que as escolas coloquem nele a culpa pela sua incompetência em trabalhar a inclusão, quando, mesmo com boa intenção abrimos concessões a ele, diferente das que ganham seus irmãos típicos, simplesmente porque ele tem deficiência.
Ontem, depois de nove meses em que a plantei,
nasceu o primeiro tomatinho. Normalmente esse processo leva dois meses, mas
ainda necessitando mais tempo ele aconteceu a partir do momento em que eu
passei a respeitar as suas diferenças sem segregá-la em um canto da sacada.
Assim acontece como nossas crianças, que muitas vezes necessitam mais tempo
para serem alfabetizadas, mas quando tem o apoio e o respeito dos pais e
professores com relação as suas necessidades um dia conseguem. Para mim, o mais
importante em todo esse processo é a certeza de que embora muito menores, seus
frutos serão tão doces e saborosos quanto os tomates que me deram suas sementes.
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